Primeiramente começamos com o significado de senciente, que segundo Prada(2018) é um termo que vem do latim sentiens= que sente, isto é, tem sensibilidade. Um ser senciente tem emoções, como medo e raiva; tem sentimentos relacionados às suas emoções e percebe o que está acontecendo com ele; tem consciência de suas relações com outros animais; tem consciência de suas relações com as pessoas e é capaz de reconhecer seu ambiente além de ser capaz de aprender com as experiências. Dizer que um animal é senciente significa dizer que esse animal tem a capacidade de sentir e que ele se importa com o que sente, assim possui a capacidade de experimentar satisfação ou frustração.
A própria ciência vem confirmando que os animais tem emoções e são seres sencientes, com todos os atributos inerentes a essa condição. No dia 7 de julho de 2012, um proeminente grupo internacional de especialistas das áreas de neurociência cognitiva, neurofarmacologia, neurofisiologia, neuroanatomia e neurociência computacional reuniu-se na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, para reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados à ela, tanto em animais humanos como não humanos. Neste simpósio, o médico norte-americano Philip Low da Stanford University , EUA, conseguiu a assinatura de 26 neurocientistas em um documento no qual declaram admitir que os animais têm consciência: a Declaração de Cambridge (LOW, 2012). Apresentamos alguns trechos desta declaração:
“Estudos com animais não humanos têm mostrado que circuitos cerebrais homólogos, correlacionados com a experiência e a percepção conscientes, podem ser seletivamente ativados e interrompidos para avaliar se são necessários, de fato, para essas experiências.
Os substratos neurológicos das emoções não parecem estar confinados às estruturas corticais. De fato, redes neuronais subcorticais estimuladas durante estados afetivos em humanos também são de importância crucial na geração de comportamentos emocionais em animais. A estimulação artificial das mesmas regiões cerebrais gera comportamentos e estados emocionais correspondentes tanto em animais humanos quanto não humanos.
Evidências de que as sensações emocionais de animais humanos e não humanos surgem a partir de redes cerebrais subcorticais homólogas fornecem provas convincentes para a existência de qualidades afetivas das experiências individuais (qualia) primárias compartilhadas ao longo de um processo evolutivo comum.”
Assim foi declarado que: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e aves, e muitas outras criaturas, incluindo os polvos, também possuem esses substratos neurológicos.”
Temos também estudos muito interessantes realizados em cães com ressonância magnética funcional que tem revelado que áreas cerebrais são marcadas ao ouvirem diferentes tipos de sons, que vão desde o barulho de uma explosão até a voz carinhosa de seus tutores. Assim foi observado que existem as áreas de percepção e processamento da voz em cães e que estas são muito semelhantes a dos seres humanos. Esses resultados expandem as descobertas anteriores de que os cães reagem de forma semelhante a algumas mudanças do estado emocional de outros cães e humanos (ANDICS et al, 2017).
A partir do momento que temos essa consciência, não podemos fingir que não sabemos que os animais sentem e por consequência sofrem. Por isso cabe a nós cuidarmos do bem-estar dos animais que estão sob nossa tutela. Mas também não podemos fechar os olhos a toda vida animal pois a senciência não se aplica somente a cães e gatos que são nossos companheiros mas a todos os animais...
Referências:
Andics, A. et al. Voice-Sensitive Regions in the Dog and Human Brain Are Revealed by Comparative fMRI. Current Biology 2017 Apr 24; 27(8):1248-1249. doi: 10.1016/j.cub.2017.03.036. Epub 2017 Apr 6. Erratum for: Current Biology 2014 Mar 3;24(5):574-8.
LOW, Philip. The Cambridge Declaration on Consciousness, Cambridge, UK, jul. de 2012. Disponível em:
< http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf> Acesso em 17/02/2021.
PRADA, Irvênia L. S. A questão espiritual dos animais. São Paulo:2018. 330p.
Por Edna Caliari Boni em 18/02/2021