Aromaterapia nos transtornos de comportamentos de cães
Matéria escrita pelo Dr. Guilherme Santos. Médico veterinário, Doutor em Psicobiologia e Professor Adjunto de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Publicada no Jornal da Laszlo, 8ª edição, novembro de 2016.
Segue abaixo um resumo da matéria:
Primeiramente, o Dr. Guilherme fala um pouco sobre como a domesticação mudou a vida dos cães, e que apesar de ter melhorado a qualidade de vida, também gerou uma carga maior de eventos estressantes, principalmente em virtude de os cães terem de se adaptar às regras impostas pelos humanos. Esta carga de estresse pode alterar o sistema límbico (controle das emoções), cujo balanço químico é controlado por uma série de neurotransmissores e hormônios, entre eles o ácido gama amino butírico (GABA) e a serotonina (5-HT). O estresse é responsável pelo surgimento de transtornos comportamentais entre eles a ansiedade de separação, que pode estar associada a uma vinculação excessiva do cão ao seu tutor e até com experiências negativas sofridas anteriormente.
O tratamento da ansiedade de separação se faz através de terapia comportamental e muitas vezes é necessário associar medicamentos com ação no sistema nervoso central (SNC), geralmente benzodiazepínicos que são fármacos que agem potencializando a ação do GABA. Estes fármacos, apesar de ter um efeito rápido sobre a ansiedade, causam sedação e com o tempo tem sua ação terapêutica diminuída podendo ainda causar dependência. Também podem ser usados antidepressivos que vão agir aumentando a disponibilidade de 5-HT. Este aumento pode causar náuseas, desconforto abdominal, agravamento da ansiedade, agitação e confusão mental. É também comum a associação de benzodiazepínicos com antidepressivos, o que minimiza os efeitos colaterais, sendo que neste modelo o benzodiazepínico tem sua dose diminuída com o passar do tempo até que só se mantenha os antidepressivos. Mas mesmo assim pode-se ter reações adversas.
“A aromaterapia surge então como uma importante opção terapêutica para os transtornos de comportamento em cães, já que pode ser tão efetiva quanto os psicofármacos, com a vantagem de promover menos efeitos adversos”. Isso acontece pois os componentes do óleo essencial inalado agem muito rápido no SNC e uma concentração muito pequena atinge o resto do organismo, assim, temos os efeitos terapêuticos, porém com baixa incidência de efeitos colaterais.
Como não existe muita literatura de aromaterapia aplicada na medicina veterinária, o uso dos óleos essenciais se baseia em pesquisas realizadas com humanos e roedores. O Dr. Guilherme disponibilizou uma tabela (abaixo) com os óleos essenciais utilizados por ele no controle da ansiedade. Ele também fala que alguns óleos não tem estudos na ansiedade, mas “sua utilização é baseada em evidências científicas acerca dos componentes majoritários destes óleos em modelos animais de ansiedade utilizando roedores”.
Ele indica utilizar sinergias que contenham óleos essenciais que atuem no sistema GABAérgico e serotonérgico. No início do tratamento, é desejável que a sinergia atue com maior predominância no sistema GABAérgico (embora também tenha que modular o sistema serotonérgico). No decorrer do tratamento, deve-se aumentar a influência serotonérgica e minimizar a influência GABAérgica da sinergia
Tabela publicada:
Também faz algumas considerações para que a aromaterapia aplicada aos cães tenha sucesso: o cuidado com a concentração do óleo essencial (máximo 2%), em virtude do olfato dos cães ser mais sensível; no início do tratamento, associar a aromaterapia com algo que o animal goste, para que ele associe o cheiro com algo emocionalmente positivo e só depois que esta associação estiver feita é que o OE pode ser usado quando o cão estiver separado do dono e associar a aromaterapia com terapia comportamental. Enfatiza ainda que é necessário conhecer o histórico médico do animal pois alguns óleos essenciais são contraindicados em alguns casos.
Por Edna Caliari Boni em 10/12/2020